Multidão de imigrantes avança por rua antiga em direção a um arco iluminado com a inscrição “Bem-vindos ao Paraíso”.

Imigração: As Contas à Moda da Casa

Despertámos, há uma década, com cerca de 400 000 imigrantes de tão discreta existência que caberiam, sem esforço, num Alentejo de planície estendida — onde até as cigarras cochilam. Hoje, abrimos a porta e tropeçamos em mais de 1 500 000 residentes legais, e cerca de 400 000 a viverem na penumbra administrativa, sem papéis nem embaraços. Dir-nos-ão, com voz embargada pela emoção, que esta enchente humana é a bóia salva-vidas da Segurança Social, essa entidade mística que jorra pensões em cascata.

Curiosamente, nunca nos explicam, nem os nossos políticos, nem os jornalistas e comentadores de sempre, como é que esta multidão messiânica subsiste: aparentemente, os imigrantes não precisam de casas, pois contentam-se em dormir ao relento, embalados pela cantilena dos grilos. Não frequentam centros de saúde, porque, por milagre da genética, nasceram imunes a vírus, bactérias e hérnias discais. Não exigem escolas, porque os filhos, modestos como só eles, aprendem sozinhos a ler nas embalagens do Nestum. A segurança pública? Disparate. Vêm tão em paz que raramente precisam de polícia — nos poucos incidentes que acontecem, resolvem tudo com abraços e chá de camomila. A iluminação pública? Supérflua. Deitam-se cedo, antes do pôr do sol, poupando-nos em electricidade e no zelo camarário. A limpeza urbana? Dispensa-se. Não deixam lixo, nem pegadas, nem vestígios da sua passagem — seres tão etéreos que a própria gravidade parece poupá-los ao contacto com o chão.

E assim, este país encantado acredita piamente que importa trabalhadores como quem importa duendes benfeitores: invisíveis, silenciosos, auto-suficientes, prontos a verter IVA e IRS para os cofres públicos, sem jamais precisar de casas, escolas, hospitais, centros de saúde ou transportes públicos.

Também a Segurança Social floresce nesse imaginário: cada novo imigrante é visto como uma fonte eterna de riqueza, uma presença quase divina que desconta alegremente para um sistema que, num acesso de generosidade inexplicável, jamais lhe deverá pagar subsídios ou pensões. Uma dádiva sem retorno, um presente perpétuo — como se a vida fosse um livro de fiado escrito a lápis.

Afinal, quem paga mesmo a conta? O mesmo de sempre: o cidadão comum, que não só financia transportes sobrelotados, urgências encerradas, centros de saúde sem médicos e polícias sem meios, como ainda é gentilmente convidado — ou coagido — a integrar culturas tão exóticas que vê nelas práticas que não entende, costumes que o chocam e exigências que não pode recusar. Tudo isto em nome de uma festa multicultural que, curiosamente, lhe pedem que pague… mas da qual nunca lhe perguntaram se queria participar.

Talvez um dia algum dos partidos tenha a coragem de ser sincero: “Vote aqui — imigração massiva garantida!” ou “Escolha a nossa lista e traga já um novo bairro multicultural para o seu concelho!”. Até lá, continuaremos a votar em silêncio, embalados na doce ilusão de que estamos apenas a escolher governos — quando na verdade estamos a escolher revoluções demográficas vendidas como bilhetes dourados para um futuro radioso.

O Frango dos Milagres Fiscais

No reino das folhas de Excel governamentais, cada imigrante surge como um frango de aviário fiscal: crescido à pressa nas estatísticas, alimentado a propaganda e pronto a ser exibido como sucesso antes que alguém pergunte pelo custo real. Cacareja-se TSU, IRS e IVA num coro afinado.

Eis o verdadeiro cabaz fiscal deixado pelos nossos frangos de ouro em 2024:

  • TSU (contribuições sociais): € 3 645 000 000
  • IRS líquido (já descontadas restituições): € 186 000 000
  • IVA (imigrantes legais + irregulares): € 975 000 000

    TOTAL (TSU + IRS + IVA): 4 806 000 000


Faz-se, assim, o número “mágico” de € 4 806 000 000 — suficiente, dizem, para “salvar a nação” na narrativa oficial.

Falta apenas subtrair o detalhe irritante de que saúde, educação, transportes, segurança e serviços municipais, entre outros, custam € 10 609 por habitante/ano.

A tabela abaixo apresenta a distribuição da despesa pública por função, segundo a classificação COFOG (Classificação das Funções do Governo). Cada valor representa a percentagem do total investido em diferentes áreas, como saúde, educação ou proteção social, bem como o custo estimado por habitante.

Classificação das Funções do Governo % da despesa pública Custo per capita (€)
Proteção social 37 % € 3 926
Saúde 14 % € 1 485
Educação 11 % € 1 167
Serviços públicos gerais 15 % € 1 591
Assuntos económicos (transportes, energia, etc.) 10 % € 1 061
Defesa 5 % € 530
Ordem e segurança públicas 4 % € 424
Habitação e amenidades comunitárias 2 % € 212
Proteção do ambiente 1 % € 106
Recreação, cultura e religião 1 % € 106
Total 100 % € 10 609

Multiplique-se o custo total anual de € 10 609 por cada imigrante residente em Portugal, no total de 1 946 521 (1 546 521 legais + 400 000 irregulares) e o feitiço devolve € 20 650 641 289 em despesas. Qualquer merceeiro, mesmo hipnotizado pelo populismo político, percebe a aritmética: vermelho vivo de cerca € 15 840 000 000 de défice.

E, como todo o número de ilusionismo precisa de uma plateia distraída, surgem em cena os “especialistas de ocasião”: colunistas, comentadores e peritos de gabinete que, entre uma conferência patrocinada e uma crónica, garantem que estes défices são “investimentos de futuro” — sementes lançadas em terreno seco, onde poucos regam e menos ainda colherão.

Entretanto, multiplicam-se as manchetes triunfais: “Portugal mais diverso!”, “Recorde de receitas fiscais!”, “Economia mais robusta do que nunca!” — omitindo, claro, que a máquina só avança porque o cidadão comum empurra, paga e se cala: paga impostos mais altos, paga serviços precários e paga, com o seu futuro hipotecado, o luxo de uns poucos que lucram sem investir um tostão, nem correr riscos.

E o pobre frango, vedeta de telejornais e relatórios ministeriais, continuará a ser exibido em horário nobre, cacarejando prosperidade para entreter o público. Até que, um dia, já sem penas, sem carne e sem ilusões, descubra-se que o verdadeiro milagre foi convencer-nos de que o banquete seria eterno — e que ninguém pagaria a conta.

Ilustração de uma balança a comparar receitas TSU, IRS e IVA com sacos de despesa pública — Saúde, Educação, Transportes, Segurança, Habitação e Serviços.
Balança simbólica com ovos dourados “TSU, IRS, IVA” a contrapor sacos de despesa pública — Saúde, Educação, Transportes, Segurança, Habitação e Serviços

Dez Anos de Engorda, o Mesmo Desastre

Prometeram‑nos que o romance 2015‑2025 seria uma comédia romântica: mão-de-obra jovem, contas equilibradas e um país rejuvenescido. Começou em 2015, afinal, com 704 milhões de euros pagos e 3,61 mil milhões de euros gastos — um défice de cerca de 2,91 mil milhões de euros.
Avance-se o filme até 2025: 5 588 milhões de euros de receita contra 24 180 mil milhões de euros consumidos — um rombo de 18 590 milhões. A relação manteve-se tão tóxica como um casamento de telenovela: quanto mais dinheiro entra, mais improvável se torna o final feliz.

Ano Imigrantes TSU+IVA* IRS líqu.* Receita total* Custo* Défice*
2015 483 000 0,64 0,064 0,704 3,61 – 2,91
2016 495 000 0,69 0,069 0,759 3,87 – 3,11
2017 524 000 0,77 0,077 0,847 4,28 – 3,43
2018 601 000 0,91 0,091 1,001 5,12 – 4,12
2019 741 000 1,17 0,117 1,287 6,57 – 5,28
2020 833 000 1,39 0,139 1,529 7,67 – 6,14
2021 879 000 1,53 0,153 1,683 8,41 – 6,73
2022 953 000 1,76 0,176 1,936 9,45 – 7,51
2023 1 032 000 2,06 0,206 2,266 10,59 – 8,32
2024 1 947 000 4,62 0,186 4,806 20,65 – 15,84
2025** 2 198 000 5,08 0,508 5,588 24,18 – 18,59

* Valores em mil milhões de euros.

** Estimativa.

Pelo caminho, o retalho viu as vendas saltar de 16 mil milhões de euros em 2015 para 27 mil milhões de euros em 2025; senhorios brindaram‑se com rendas que duplicaram; donos de grandes explorações agrícolas engordaram lucros colossais à custa de salários de miséria; a saúde privada floresceu entre apólices de seguros e consultas pagas a peso de ouro; a hotelaria e a restauração reergueram-se com turnos intermináveis pagos a trocos; e os voos low-cost transformaram-se numa verdadeira ponte aérea de salários mínimos.

A receita pública, porém, continua refém de contratos sazonais e recibos verdes de sobrevivência — paga salários de trotinete a quem tem de manter um carro velho, com o motor gripado e a conta da oficina a crescer como dívida pública.

Superávits de Papelão e Escolas do Século Passado

Não faltou quem agitasse bandeiras por dois excedentes orçamentais consecutivos (2023‑24). À sombra do mantra das “contas públicas robustas“, contabilizou‑se o IVA do turismo como se fosse renda de família enraizada e congelou‑se investimento com cativações desenhadas à medida do milagre estatístico.

Entretanto, as escolas continuam a despejar alunos em salas sem espaço nem memória, onde o futuro se ensina com manuais que já pareciam velhos quando a internet era ainda uma miragem. Laboratórios de informática que mais parecem museus de arqueologia digital, bibliotecas que exibem volumes amarelados como troféus da extinção, e professores exaustos a remendar programas escolares com fita-cola pedagógica.

Nos hospitais públicos, os corredores transformaram-se em alas improvisadas, onde doentes esperam dias inteiros em macas, na esperança de que uma cama livre se liberte antes que a paciência — ou a saúde — se esgote. Equipamentos avariados, urgências em colapso à primeira gripe sazonal e centros de saúde onde conseguir uma consulta é acto de fé superior a qualquer milagre de Fátima.

As televisões, alimentadas por anúncios de hipermercados, seguros de saúde e operadoras de telecomunicações, repetem em coro: “Sem imigração, morreremos”.
Mas nunca morremos antes — e não serão campanhas de medo embaladas em jingles publicitários em horário nobre que nos convencerão de que sobreviver em fila indiana, de senha na mão e esperança no bolso, é sinal de progresso.

Via Verde para a Imigração: Uma Autoestrada para o Caos

Abril de 2025 trouxe uma prenda digna de fábula: a “Via Verde” para a imigração, um protocolo onde empresas de grande dimensão, cumprindo meia dúzia de requisitos em papel, podem contratar directamente no estrangeiro e acelerar a emissão do visto em apenas 20 dias. Não existe qualquer cota fixa de imigrantes — apenas a expectativa governamental de que cerca de 110 000 novos imigrantes possam usufruir desta autoestrada administrativa para entrar em Portugal.

O contrato pode ser temporário, as garantias de alojamento são vagas e a formação em língua portuguesa é uma intenção piedosa mais do que uma exigência real. A propaganda embala o eleitorado com versos de multiculturalismo épico, prometendo mão-de-obra para sectores como agricultura, construção e turismo — e a eterna ilusão de que tudo se autofinancia.

Mesmo que todos venham a ter emprego a 100% e descontem sobre o salário mínimo, a receita não ultrapassaria 570 milhões de euros em TSU, IRS e IVA. Já o custo para o SNS, segurança e serviços básicos ultrapassa confortavelmente 1 bilião de euros anuais. Diferença? Um rombo adicional de quase 500  milhões de euros, que o Orçamento embrulhará, como sempre, em contabilidade criativa e promessas de investimento no “amanhã”.

O IHRU, voz rouca a clamar no deserto, já alertou que faltam mais de 80 000 fogos acessíveis — verba que, previsivelmente, se dissolve algures entre folhas de Excel e comunicados de imprensa. Sindicatos e especialistas já avisaram que a falta crónica de recursos consulares torna a promessa dos 20 dias um exercício de ilusionismo.

O protocolo prevê que a “Via Verde” possa ser suspensa caso haja pressão excessiva sobre serviços públicos — mas confiar na prudência governamental é, em si, um exercício de fé. Sonho, pesadelo ou apenas mais uma operação de cosmética estatística? Em breve saberemos — ou fingiremos, mais uma vez, que não vimos.

Agricultura de Sol a Sol

Dos cerca de 400 000 imigrantes sem papéis, metade planta morangos no Alentejo, apanha laranjas no Algarve, vindima uvas no Douro, colhe pêra rocha no Oeste ou apanha azeitonas nas herdades do olival industrial. Outros descem às margens do Tejo, dia e noite, para a apanha clandestina de amêijoa — uma actividade que rende milhões, mas apenas para os donos invisíveis dos negócios e para as redes discretas do tráfico humano.

Dos que trabalham, ganham cerca de 600 euros/mês, sem IRS, sem Segurança Social, sem direitos, sem nome. Contribuem, quando podem, com um modesto IVA de cerca de 200 milhões de euros — compram arroz, óleo e farinha para esticar a fome. O Estado, sempre generoso na despesa e cego na cobrança, gasta mais de 1 mil milhão em serviços médicos, segurança pública e transportes públicos que já rebentam pelas costuras.

Resultado? Um buraco líquido de 800 milhões de euros todos os anos — mais de treze vezes o orçamento anual do Tribunal de Contas, ironicamente a instituição responsável por fiscalizar esta comédia orçamental. Mas como fiscalizar aquilo que, oficialmente, não existe? Onde não há NIF, não há problema; onde não há registo oficial, não há culpa. Assim se fabrica o milagre da economia invisível — aquela que enche os bolsos de alguns e os corredores do SNS de todos os outros.

Nas quintas, nos estaleiros, nas campanhas agrícolas e nos areais do Tejo, o mercado paralelo floresce à sombra da lei, com a bênção tácita dos mesmos que, nos debates televisivos, juram defender o Estado de direito. Sem recibos, sem descontos, sem seguros: uma geração invisível, recrutada ao preço da chuva para manter baixos os custos agrícolas e da construção — e invisível a miséria nos relatórios oficiais.

Entretanto, o SNS afunda-se em listas de espera onde o rosto do doente é apenas mais um número, as escolas improvisam turmas em salas sobrelotadas e as esquadras acumulam pequenos delitos que evaporam sem nome nem estatística.

É o mercado a funcionar — dirão. O verdadeiro liberalismo, enfim: livre para contratar, livre para explorar, livre para desaparecer no Excel sem deixar rasto.

As Pensões que Já Nascem com Rugas

Hoje, as contribuições dos imigrantes oferecem à Segurança Social um saldo positivo de 3 mil milhões de euros — uma taça de champagne efervescente servida num banquete de contas em dieta severa. Políticos, jornalistas e comentadores levantam o copo e brindam com entusiasmo: “salvam as nossas pensões!”. Mas os profetas de contas e desgraças — esses feiticeiros antipáticos que teimam em ver o futuro em vez da festa — recordam uma evidência inconveniente: daqui a trinta anos, senão antes, cada jovem imigrante terá direito à sua pensão mínima, tantas vezes proporcional a uma carreira contributiva feita em salários mínimos.

As projecções, essas ingratas, não perdoam: 6 mil milhões de euros anuais em 2055 só para pagar reformas a imigrantes de hoje. E isto, claro, assumindo que todos contribuem de forma ininterrupta durante décadas — num país onde a precariedade é norma e não excepção.

A menos que os salários médios disparem 40 % (boa sorte, dizem os Deuses da Estagnação) ou se feche finalmente a torneira de entradas, estaremos condenados a assistir ao colapso da Segurança Social em versão ópera bufa: muitos protagonistas no palco, poucos lugares na orquestra, e cada vez menos público para pagar bilhete.

Mas vá, continuemos a repetir o slogan “salvam as pensões”, enquanto o Titanic nacional afunda-se ao som de violino — agora com partituras traduzidas em dez línguas, para garantir que ninguém se sinta discriminado enquanto o navio vai a pique.

A Reforma que Nunca Chegará

Durante anos, venderam-nos a Segurança Social como um porquinho-mealheiro encantado: bastava enchê-lo com trabalho, otimismo e, claro, uma dose generosa de imigração, e dele jorrariam pensões eternas — um géiser de dignidade intergeracional. Mas os números — esses traidores sem sensibilidade política — decidiram falar. E o que dizem? Que em vez de um mealheiro temos um cofre aberto.

Entre 2015 e 2025, as contas acumuladas da Segurança Social desenham um mapa do desastre: um défice anual que ora disfarça, ora escancara a erosão do sistema. Em 2015, o saldo negativo era de modestos 1,96 mil milhões de euros. Dez anos depois, o buraco acumulado já escava os 8 mil milhões — sem contar com os 7,7 mil milhões de dívida contributiva por cobrar. Resultado? Um passivo total de quase 16 mil milhões de euros. Para um sistema supostamente “salvo pelos imigrantes”, a ressurreição está a demorar.

* Valores em mil milhões de euros.
** Estimativa para 2025.

O truque, claro, é sempre o mesmo: embrulha-se a realidade em PowerPoints com gráficos em tons pastel e títulos esperançados como “O Futuro Está Seguro”. E quando os números apertam, saca-se da cartada mágica: “os imigrantes estão a salvar a Segurança Social”. Salvar, não salvam. Estão a suster — à custa de salários baixos e descontos mínimos que um dia darão direito, inevitavelmente, a pensões mínimas. O sistema não foi salvo — foi apenas empurrado com o pé para as décadas seguintes.

Ninguém quer falar do elefante na sala porque o bicho tem voto. Reformar a idade da reforma? Tocar nas fórmulas de cálculo? Explicar ao país que o modelo é, estruturalmente, uma pirâmide invertida em fim de linha? Isso não dá votos. Dá chatices. E os sucessivos governos preferem continuar a dançar o vira da ilusão: tudo sob controlo, só precisamos de mais jovens a descontar — mesmo que sejam temporários, mal pagos e sem garantias de carreira contributiva completa.

E como termina esta novela? Com o plano B: empurrar subtilmente os portugueses para fundos de pensões privados. Quando o colapso bater à porta — e já falta pouco — surgirá o spot televisivo, com música suave e voz grave: “Invista hoje no seu amanhã. Segurança é escolher o seu futuro.” Uma segurança que será, naturalmente, selectiva. Para quem puder pagar. Para quem tiver margem para descontar duas vezes: uma para o Estado falido e outra para fugir ao seu abraço sufocante.

Será, como sempre, um golpe à portuguesa: primeiro criam o problema, depois culpam os outros, e por fim vendem a solução aos mesmos que enganaram.

Selfie na Ribeira do Porto com mercado de rua multicultural, vacas a passar e tuk-tuks junto ao rio, cenário futurista 2050.
Cena futurista na Ribeira: mercado de rua multicultural, tuk-tuks e vacas junto ao Douro, captada em selfie.

A Fatura Final

Gritar “porto de abrigo” ficou barato; caro é sustentar promessas com euros que não existem nem nas mais fantasiosas folhas de Excel. Urge atrelar vistos a salários de, pelo menos, 1,2 vezes a média nacional, garantir casas e vagas no SNS antes de carimbar residências, converter clandestinos em contribuintes efectivos e taxar de verdade os lucros do retalho que hoje escorrem pelas fendas douradas dos regimes especiais.

Porque sejamos claros: a imigração em massa salvou muitas fortunas — mas poucas vidas. Salvou lucros em grandes superfícies, que duplicaram as vendas; alimentou o mercado imobiliário, que viu as rendas medíocres atingirem preços de boutique; e encheu os cofres da saúde privada, que acolheu utentes desesperados, expulsos do SNS.
Pelo caminho, também salvou carreiras políticas: quem melhor prometer vistos fáceis e promessas brandas leva o novo eleitorado, preparado para votar no partido que oferecer mais direitos e menos perguntas.

Não por acaso, a moda é propor que o NIF sirva de bilhete de voto: se é bastante para cobrar impostos, que seja bastante para decidir quem governa — preferencialmente quem abriu as portas e garantiu os benefícios. Jornalistas e comentadores televisivos — alguns por convicção política, outros por avença publicitária — repetem o refrão da necessidade de “mais imigração”, embalando audiências enquanto garantem que os anúncios de hipermercados continuam a pagar os seus salários.

E no fim, quem paga?
O cidadão comum — aquele que não lucrou com supermercados, nem vendeu apartamentos pelo triplo, nem garantiu avenças douradas.
Aquele que aguarda horas nas urgências, que procura casa com rendas acessíveis e que assiste, silenciosamente, à transformação do país numa feira de estatísticas de fachada.

Até lá, continuaremos a aplaudir superavits de trocos enquanto financiamos défices de milhares de milhões — com a mesma inocência com que se trocam cromos repetidos no recreio da escola primária.

O dia em que olharmos para os números sem maquilhagem talvez doa — e muito. Mas talvez seja nesse momento, e só aí, que deixaremos de ser a pátria maravilhada pelas suas próprias ilusões e passemos, finalmente, a ser o país adulto que, antes de se entusiasmar com a sobremesa, faz as contas ao que já comeu… e confirma se tem dinheiro na carteira para pagar a refeição toda.

Almeida Silva
Almeida Silva
Artigos: 6